quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Acreditar é Preciso

Já há algum tempo tenho notado que os "não-teístas" estão cada vez mais em foco. Acredite, esse é o melhor nome para descrever os ateus. Essa palavra é nova e mais fácil de explicar porque não requer um dicionário (a = negação). E também a maioria das pessoas tem medo de falar "ateu" com o risco de ser pecado.

O que me chamou a atenção para o assunto foi uma notícia (ouvi no rádio) hoje pela manhã a respeito de uma campanha movida pela ATEA, que é uma associação para os não-teístas e agnósticos. Agnósticos são aqueles camaradas que são ateus, mas ainda não tem muita certeza, e usam essa palavra para confundir aqueles malas que vem pregar na porta de casa. Tem gente também que diz que são os caras que acreditam em um deus ou força divina, mas não tem religião. Whatever, vão pro inferno do mesmo jeito. :)

Eu me encaixo mais no perfil do não-teísta porque já passei pela fase de agnóstico.

Eu vi a campanha e me coloquei em uma posição de observador, nesse caso. Eu entendo que, se não chocar, não tem visibilidade e que se a ideia é passar a mensagem de "ói nóis aqui traveis", tem que ter impacto. Mas como o povo tem pouca informação sobre o assunto e os brasileiros são menos "protestantes" que os americanos, acho que pode provocar maior retração e colocar as pessoas ainda mais na defensiva. Olhei alguns comentários e tem gente com opiniões bem distintas a repeito. Talvez o pessoal mais jovem entenda melhor a mensagem.

Depois disso tentei saber mais sobre a associação e a primeira coisa que veio na minha cabeça foi: Afinal por que esse povo vai se associar? Isso não vai criar uma espécie de "entidade" com "contribuições" para "o bem de todos". Quem seria tão estúpido em cair nessa?

Então eu entrei no site dos caras pra tentar entender a proposta, mas a única coisa que me chamou a atenção foi uma frase explicando para os monoteístas o que é um não-teísta: "Se você é monoteísta, ou seja, se acredita na existência de um único deus, então já é quase tão ateu quanto nós, pois entende que todos os demais deuses são apenas criações humanas. Quando você entender porque não acredita em todos eles, saberá por que não acreditamos no seu também."

Não tiro o mérito do esforço porque não é fácil juntar pessoas para qualquer coisa, principalmente as que não acreditam nem mesmo em Deus! Gzuis! :) Mas de uma certa forma, seguir de maneira militante não é algo que me agrada (desculpa ae Dawkins). Embora eu me encaixe num grupo semelhante, não dá pra deixar alguém representar o que eu penso de forma genérica e coletiva.

Vejamos:
Eu não quero "desconverter" as pessoas. Ao dizer que estou certo e os que pensam diferente estão errados, estarei fazendo aquilo que não gosto que façam comigo.
Eu não estou preocupado com a crença dos outros. Essa é uma opção completamente individual baseada na educação e na percepção de mundo de cada um. O processo de "descobrir o mundo" deve ser individual e respeitado. Acho que é isso a tal "liberdade religiosa".

Mas onde é que o bicho pega? O problema está em outra situação que não tem a ver com as opções religiosas individuais das pessoas. O problema está quando um grupo de pessoas com intenções maléficas (ou seria malévolas?) usam outra "massa" de pessoas, que se estão sendo usadas é porque são ignorantes, no melhor sentido da palavra, para benefício próprio ou de um pequeno grupo, parecido com alguns políticos de um certo país.

Quando isso acontece, aparece uma face de coletividade que acaba representando aquele grupo de pessoas e as mesmas entram em uma certa sincronia de forma a deixar de perceber as pequenas situações particulares e julgar de forma coletiva o comportamento de quem não faz parte do grupo. Isso tudo ocorre por ser mais fácil pensar em grupo do que individualmente. Nesse momento, se o "bicho pegar", os mais fracos é que acabam se dando mal.

Nesse sentido o que se deve combater é a visão desse tipo de coletividade ou tentar mostrar a essas pessoas que o problema não está no que ela acredita e sim no coletivo que ela representa. As ações devem ser mais para "acordar" e trazer informações às pessoas do que querer convertê-las ou desconvertê-las. Em resumo, combater a ignorância, apenas isso. E a pior forma de fazer isso é criar um grupo que vai agir de forma semelhante.

Um belo dia você cruza com alguém que foi ofendido por um grupo e sem saber afirma que é do outro grupo e acaba "pagando" apenas por esse motivo. Por isso, é preciso acreditar que existe outras formas de levar a humanidade para frente.

2 comentários:

Rafael Dias disse...

"Há dois tipos de ateus: os que não acreditam que Deus existe e os que acreditam piamente que Deus não existe. Os primeiros relutam em crer naquilo de que não têm experiência. Os segundos não admitem que possa existir algo acima da sua experiência."

Você não é o único ateu (ou não-teísta) que se sente mal com a possibilidade de ser representado (sem ter solicitado tal serviço) pela ATEA ou pelo Bule Voador. Aliás, há até um grupo de ateus contra o bule voador, e a resposta é simples: não crer não pode ser uma posição dogmática que algum grupinho impõe a todos os outros, sob o crime de ser acusado de "você não é tão ateu como nós". Se o que os ateus querem é não sofrer discriminação (eu, pessoalmente, acho que isso não acontece ou acontece muito pouco), estão fazendo a coisa errada. Certamente a ATEA não vai conseguir isso zombando dos crentes.

Blogotti disse...

Exatamente nesse ponto é que mora o perigo. A gente tem uma compulsão em classificar pessoas e colocá-las em grupos, porque assim parece ficar mais simples de entendê-las, mas cada um é diferente do outro, é indivíduo. Classificar é bom pra objetos, pra ser humano não funciona.