terça-feira, 1 de março de 2011

Mundo Raso

Esse tema é extenso, e queria refletir mais sobre ele antes de escrever, mas achei melhor escrever em partes e seguir o "modus operandi" atual da sociedade moderna.

Tudo começa com observações sobre o cotidiano. O que eu tenho vivido ultimamente, e confrontado com observações semelhantes de amigos, é que o mundo está cada vez mais fino, raso e achatado. É claro que a minha percepção não vai além do que acontece ao meu redor, e por isso, a ideia de colocar no blog é para tentar medir o tamanho do estrago.

A observação inicial começou com um gesto simples de levar meu carro ao mecânico onde depois de uma via sacra em mais três oficinas consegui finalmente descobrir a causa do defeito. Das três, encontrei apenas uma onde o mecânico parecia realmente entender do assunto.

A próxima experiência foi para fixar minha TV na parede. Começando com a compra do suporte que dizia servir para qualquer modelo e para a minha TV era diferente. Depois, quando achei o tamanho correto, ao abrir a caixa o fabricante, descaradamente informava que os parafusos de fixação no lado da TV podiam não servir. Ao tentar comprar os parafusos, sem uma especificação certa, cheguei a especificação de um parafuso M8x60. Ao chegar na loja de ferragens, o primeiro vendedor sequer sabia o que significava essa medida. Para o segundo, tive que explicar que eram medidas em milímetros onde ele arriscou usar um paquímetro sem muito sucesso para tentar me vender um parafuso "semelhante".

Se eu precisar ir a um posto médico de emergência ou a um pediatra levar meus filhotes, é trágico chegar sem um diagnóstico pronto. Se falo dos sintomas, o resultado é uma "virose". Se arrisco algo como uma inflamação ou resfriado, será esse. Mesmo com radiografias, os médicos não tem muita certeza do diagnóstico. É difícil encontrar um que justifique o diploma.

Se eu colocar minhas histórias nas empresas, vai ser um desastre. Será uma sequência de episódios de amadorismo cruel. Quanta gente enfiada em profissões para as quais não tem o mínimo de aptidão! Quanta gente fazendo trabalho completamente amador apenas porque recebeu uma indicação. Quantos sem um mínimo de paixão pela profissão!

Existem outras situações que passei a observar e que são situações comuns, do dia a dia, mas que sempre chegam ao mesmo ponto, ou seja, a exacerbação do amodorismo, a falta de conhecimento básico, a despreocupação com o saber. Se levar em conta os exemplos que encontro no trânsito, o número de amadores tende ao infinito.

Não é um desastre total. É claro que encontro profissionais, pessoas dedicadas e que sabem o que estão fazendo, mas claramente é uma exceção.

Uma das conclusões que cheguei e espero estar errado, é que a culpa é do excesso de informação. Parece que a revolução do conhecimento está levando as pessoas a ficarem mais preguiçosas ou dispersas e consequentemente aproveitando apenas a informação de qualidade ruim. As pessoas param de pensar e questionar porque a informação é abundante e não é preciso entender. É preciso apenas ter o acesso.

Eu tinha a certeza de que mais acesso a informação nos levaria mais perto de uma civilização mais "inteligente" e mais evoluída, mas parece que o resultado não está sendo esse. A mesma informação errada ou não criticada é replicada diversas vezes e parece se tornar uma verdade. Esse ciclo tem cara de armadilha para a liberdade de pensamento. Como diria um professor, são os grilhões sendo colocados aos poucos, mas dessa vez no cérebro!

Um comentário:

mve disse...

É amigo, a coisa está feia. Concordo contigo: poucos se interessam em conhecer de fato alguma coisa. A maioria apenas consome informação sem nem saber do que se trata.
Aliás, acho que num dos "pede-café", gravado ou não, discutimos como o mar de informação deixaria as pessoas ainda mais perdidas, e talvez essa fosse uma oportunidade de negócio: achar a informação pra quem está perdido no meio de tanta informação.....