domingo, 11 de outubro de 2015

Por um dia das crianças

A minha reflexão é de uma pessoa adulta e com certeza com conceitos ultrapassados. A principal recomendação aqui é encarar isso só como uma reflexão.

Está claro, para mim, que a melhor forma para alcançar a melhoria da qualidade de vida de um povo é através da educação de sua população mais jovem e das crianças, principalmente. A educação aqui não é apenas da escola, mas também a que vem dos pais. Eu costumo fazer uma analogia com uma muda de árvore plantada em um vazo. A escola tem o papel de nutrir a terra para que a criança possa ter a sua disposição os nutrientes que precisa e os pais o papel daquele suporte que se coloca ao lado do galho conforme o galho vai crescendo. É uma analogia para conhecimento e ética.

Entendo que é preciso investir nessa educação das crianças porque uma pessoa adulta ou mais velha dificilmente irá aprender algo novo ou mudar sua forma de pensar, rever seus conceitos. A teoria diz que as ideias que cultivamos por bastante tempo formam, em nossa cabeça, um escudo protetor automático e inconsciente que luta contra ideias diferentes.

A estratégia é de colocar mais esforço onde o resultado será mais eficaz. É claro que esse é um plano de longo prazo e para nossos tempos de ansiedade extrema é difícil de implantar. Infelizmente para nossos pequenos brasilianos nossa sociedade ainda não parece ter amadurecido o suficiente para entender essa estratégia. Sabemos que nossas escolas ainda usam modelos ultrapassados e sabemos que nós, como adultos resistentes a mudanças, temos lutado para manter esse modelo. É claro que estou generalizando e que existem boas iniciativas, mas eu percebo que é um privilégio de poucos.

Não é difícil de encontrar adultos que passam por esse desafio da mudança, seja através da família ou mesmo no seu trabalho. É difícil quebrar os preconceitos e até arriscaria dizer que, na maioria das vezes, esses preconceitos são apenas mascarados durante a transição para uma nova moral imposta por uma maioria mais jovem e com cabeça mais aberta. Como exemplo mais recente posso citar a transição de uma educação infantil a base de castigos físicos para a educação a base de diálogo e jogos psicológicos.

Se nós, como pais, somos esse anteparo moral e usarmos nossos preconceitos, ensinados por nossos pais, para nossos filhos, não podemos esperar que haja alguma evolução. Fazer isso seria deixar de manter as tradições. Isso pode incomodar, mas nós devemos ou não interferir nessas tradições se quisermos evoluir?

O outro lado é que existem estudos recentes que dizem que nosso cérebro é plástico, ou seja, feito para se moldar conforme nossas necessidades. Ele é mais maleável quando somos crianças e embora mais rígido quando adulto, é possível remodelar.

Ou seja, parece que não existe galho que nasce torto. Ele entorta se não tem o suporte para direcionar ao caminho certo. Direcionar nesse caso não é dar o conhecimento pronto e sim ensinar a conquista-lo. É uma analogia simplista e nem mesmo eu acredito completamente nisso, mas é uma base boa para direcionar um pensamento com maior chance de estar certo.

Sim, eu disse chance. Caso ainda não tenha tido contato com o final do século XX, estamos vivendo em um mundo de probabilidades. Certo e errado são termos complicados. Descobrimos comportamentos na natureza que indicam que a realidade não é tão fácil de entender como pensávamos. A certeza agora é incerta. Não somos capazes de alcançar a realidade como ela é e isso é bom.

Outra mudança social está no fato que a moral que era definida por região, por classe, por religião, por etnia, está cada vez mais frágil e os jovens humanos estão levando o mundo para outra era. Pensamentos restritivos como castas sociais, divisões por gênero e sociedades baseadas na dominação do homem sobre a mulher estão em cheque. Guerras estão ocorrendo por causa disso e cada vez essas mudanças ocorrem com mais rapidez. Eu tenho a sensação de que estamos bem no meio dessa transição e por isso tudo parece meio caótico. A minha sensação é que no final ficará melhor.

Tem outro aspecto que eu acho ser preciso refletir. É o aspecto emocional. Eu participei uma vez de um evento bacana em SP com várias palestras sobre um tema que era “O que o Brasil pode oferecer ao mundo?”. A conclusão final da organização depois das palestras, e que eu também concordei na maior parte, é que a gente poderia ensinar o mundo como sentir emoções, ou seja, contribuir com um dos fatores importantes para que as relações humanas sejam mais maleáveis e que haja mais resiliência. Embora seja um aspecto que não é compartilhado por todos, e eu sou um péssimo brasileiro se olhar por esse aspecto, nós temos uma cultura que tem uma carga emocional muito forte. Os símbolos que mais presentes são: o esporte, a música, a arte, o sexo e o tal “jeitinho”. Não que outras características não estejam presentes, mas existe certo orgulho nacional com esses valores.

Embora existam aspectos positivos e negativos nisso, é o que temos. É preciso que a gente aprenda a dosar para abrir espaço para outros valores. Nós precisamos ensinar nossas crianças sobre a existência de outros valores que estão presentes em outras culturas e que ajudaram a enriquecer seus povos. Esses valores são o da ética sem o jeitinho principalmente, da ciência, da matemática, da engenharia, da filosofia, da história e tantos outros campos do conhecimento humano. Temos que achar uma forma de valorizar isso sem perder, é claro, os aspectos positivos do lado emocional que já temos.

sábado, 3 de maio de 2014

Solução por Indicadores

Isso é uma ficção do tipo óbvia.

Usando as mais modernas teorias de administração, o Brasil deveria funcionar por indicadores.
Os indicadores seriam os seguintes:
1 - Indicador de mortes nas estradas. (por quantidade relativa ao ano anterior, por estado)
2 - Indicador de atendimento em hospitais públicos. (por número de reclamações na ANS, por estado)
3 - Indicador de nível de ensino das escolas públicas. (por evasão e notas do ensino fundamental)
4 - Indicador de qualidade política. (quantidade de candidatos nanicos, troca de partidos e ficha limpa)
5 - Indicador de violência. (quantidade de crimes e morosidade da justiça, por estado)
6 - Indicador de lucro das instituições bancárias. (EBITDA dos bancos)
7 - Indicador de desastres por falha em fiscalização de órgãos públicos (por cidade).

A cada ano, os indicadores seriam colhidos e as punições vigorariam no ano seguinte, com as regras:
- Sempre que o indicador 1 for ruim, o valor do imposto sobre os combustíveis e impostos sobre veículos aumentariam em 50%. O governador e o ministro dos transportes perderiam os cargos.
- Sempre que o indicador 2 for ruim, o carnaval seria cancelado e a verba seria destinada a área da saúde. O ministro da saúde e o governador perderiam os cargos.
- Sempre que o indicador 3 for ruim, o carnaval seria cancelado. Os campeonatos de futebol seriam cancelados. O ministro da educação, os senadores daquele estado e o governador perderiam os cargos.
- Sempre que o indicador 4 for ruim, o partido com maior representação perderia 50% dos cargos no congresso nacional. O ministro da casa civil e o presidente da câmara perderiam os cargos.
- Sempre que o indicador 5 for ruim, os campeonatos de futebol seriam cancelados. A verba para a educação seria acrescida em 50%. O ministro da justiça, o presidente do STF e o governador perderiam os cargos.
- Sempre que o indicador 6 for ruim (lucro exorbitante), todas as loterias seriam canceladas. Os bancos doariam o lucro excedente ao ministério da saúde. Os juros bancários seriam reduzidos em 50%. O ministro da fazenda perderia o cargo.
- Sempre que o indicador 7 for ruim, todos as cidades com os piores indicadores seriam obrigadas as reciclar os agentes fiscais. O ministro das cidades e o prefeito afetado perderiam os cargos.

Sempre que 3 ou mais indicadores forem ruins, haveria eleição para a câmara dos deputados.
Sempre que 4 ou mais indicadores forem ruins, haveria eleição para o senado.
Sempre que 5 ou mais indicadores forem ruins, haveria eleição para presidente.

Como toda gestão por indicadores, seria preciso alguma ferramenta para evitar a maquiagem dos próprios indicadores. Mas isso tudo e o resto tem a ver com o indicador de corrupção. Esse é o mais complicado de medir e o mais complicado de controlar, porque depende dos próprios brasileiros e não apenas dos governantes. É amiguinho, estou falando de você!

Talvez, se fosse possível controlar esse indicador de corrupção, nenhum outro indicador seria necessário. Mas daí depende de cada um ter a cabeça no lugar e deixar de levar vantagem sobre o coleguinha. Deixar de ser um grandessíssimo (eu sei o que você pensou) espírito de porco e se preocupar mais com o lugar que vive, com o futuro e não apenas com o próprio rabo.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Páscoa: um transe coletivo

Lá vem mais um feriado da Páscoa.

Por que a páscoa é no domingo? 
Eu tentei ir além do ensinamento da minha instrutora de catequese que dizia:  "É domingo porque é, horas. É a celebração da morte de Jesus Cristo e afinal por que você faz tantas perguntas?"
Na verdade, a páscoa é uma data móvel baseada no calendário judaico e é determinada de acordo com a primeira Lua cheia da primavera.
Tem a ver com um período de comemoração da libertação do povo de Israel do Egito. Isso deu um trabalho danado ao mestre Gauss para calcular o tal domingo a cada ano. Ou seja, além da própria tradição judaica não saber exatamente a data porque as tradições são orais (por isso a referência é a Lua), a data não tem nada a ver com a morte de Jesus Cristo. O que existia nessa época, na tradição judaica, é a morte de um cordeiro. Só pra lembrar, o Deus cristão já teve uma fase Tarantino e exigia de seus seguidores sacrifícios com muito sangue.

O que coelhos tem a ver com isso?
Existem várias explicações em cada povo, mas no geral todas tem a ver com a fertilidade relacionada aos coelhos que se reproduzem bagarai no início da primavera. Os coelhos tem relação também com as tradições pagãs europeias, com os costumes de enterrar ovos para celebrar a fertilidade da terra e decorar as árvores com ovos coloridos.

O que chocolate tem a ver com isso?
A parte do chocolate começou com uma tradição europeia de presentear com ovos decorados e até mesmo banhados a ouro para demonstrar prosperidade. Os franceses, é claro, começaram a rechear esses ovos decorados com chocolate. Na Europa, o chocolate, além de ser feito com mais cacau do que açúcar, não derrete facilmente. 

Conclusão
Nós paramos um país por 4 dias e pagamos uma fortuna para comer chocolate em forma de ovo, que não tem nenhuma semelhança com o chocolate francês, em uma data ditada por uma tradição europeia do povo judaico, pensando ter a ver com Jesus Cristo, que é uma personagem de outra tradição que não tem nenhuma relação com as loucuras pagãs da tal Lua cheia da primavera, e não tem nada a ver com a fertilidade dos coelhos porque aqui no hemisfério sul, nessa época do ano que se comemora a Páscoa, é outono.

É ou não é um transe coletivo?

quarta-feira, 26 de março de 2014

Beltrano Citizen

Estou aqui para pedir seu voto. Sou candidato a cidadão brasileiro.
Durante a vigência do meu mandato, eu prometo:

  • Mudar meus hábitos no trânsito:
    • Vou obedecer as leis de trânsito, principalmente nos domingos, mesmo sabendo que no domingo a lei não vale e deixarei de usar o pisca-alerta em todas as situações em que estou infringindo a lei.
    • Deixarei de dar mal exemplo ao meu filho na porta da escola, com minhas paradas em fila dupla, em cima da faixa de pedestre, em local proibido, ou na contra-mão, mesmo que esteja com o pisca-alerta ligado.
    • Não andarei mais no acostamento das rodovias quando o trânsito estiver parado mesmo quando não tiver placa informativa e estiver com o pisca-alerta ligado.
    • Venderei minha picape para que possa parar corretamente nas vagas do supermercado sem ocupar duas vagas.
    • Vou desinstalar os 18 auto-falantes do porta-malas do meu carro e desligar meu sistema de som bate-estaca de baixa frequência e mal gosto, principalmente nas portas de hospitais.
    • Vou respeitar os limites de velocidade, não só quando estou passando em frente a uma delegacia ou posto da polícia.
    • Vou instalar a seta para que eu possa indicar minha intenção de manobra com antecedência. 
  •  Mudar meus hábitos na frente da televisão.
    • Sempre que um programa jornalistico apresentar uma reportagem séria ou que me deixe indignado e em seguida mostrar os "gols" do campeonato local, vou mudar de canal imediatamente.
    • Programas sobre dramas domésticos, vida cotidiana e comédias com claques forçadas estarão de fora do meu controle remoto.
    • Deixarei de me preocupar com a vida de sub-celebridades de reality shows.
    • Domingo deixarei a TV desligada, se eu estiver em casa.
  • Mudar meus hábitos do dia a dia:
    • Não vou furar filas, de nenhum tipo, principalmente quando eu achar que as pessoas na fila são todas otárias.
    • Quando andar na escada rolante, vou deixar espaço para o vizinho que estiver apressado.
    • Vou usar fones de ouvido quando quiser ouvir música no meu celular mesmo que eu tiver certeza que as pessoas em minha volta estão sedentas para conhecer meu gosto musical.
    • Não vou mais abrir alimentos enquanto faço compras no supermercado.
    • Vou respeitar o espaço público e deixar de jogar lixo na rua, mesmo sabendo que poderia contribuir com o trabalho dos garis.
    • Vou desligar meus modos "espírito-de-porco" e "gerson"
  • Mudar meus hábitos em redes sociais
    • Vou passar menos tempo em redes sociais.
    • Não vou compartilhar correntes ou coisas que não entendo, mas acredito só de olhar.
    • Vou aprender a escrever de forma correta.
    • Vou deixar de acreditar nas frases de gente famosa.
    • Vou ler textos com mais de 140 caracteres.
  • Mudar meus hábitos políticos
    • Deixarei de acreditar em políticos com nomes engraçados e sem preparo, mesmo que sejam divertidos.
    • Não vou votar no candidato do meu vizinho ou naquele santinho da boca de urna.
    • Vou deixar de acreditar que voto nulo é protesto.
    • Não votarei em candidatos corruptos, mesmo tendo o pretexto de ser bom administrador.
    • Não trocarei meu voto por propinas, principalmente do tipo "bolsa-qualquer-coisa".
    • Não votarei no candidato preferido do meu artista favorito.
  • Mudar meus hábitos na escola e no trabalho
    • Vou cumprir os horários combinados.
    • Vou procrastinar menos.
Sendo assim, peço seu voto e tenho certeza que farei um bom trabalho. Votarei por você com muita convicção e tenho certeza que ficará contente, sem precisar se preocupar com todas essas responsabilidades. 

Vote Beltrano. 
Não sou qualquer fulano!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Tolerância e Impunidade

A inspiração veio do poema "O Fortuna", mas a reflexão vem dos fatos atuais com opiniões contraditórias sobre o tema recente de fazer justiça com as próprias mãos. O povo sabe, que se a moda de prender bandido no poste pegar, vai faltar poste!

Me chamou a atenção os meios de comunicação falarem da sociedade estar a beira da barbárie. O termo vem da palavra bárbaro, que era o nome dado aos povos que invadiam terras "civilizadas". Se procurar pela lista de povos que já foram chamados de bárbaros, vai descobrir exemplos como os Celtas, os Hunos, os Vikings e os Vândalos, que aqui usamos como adjetivo para descrever bem quem pratica o tal "vandalismo".

Ao mesmo tempo nós usamos a palavra "bárbaro" como gíria para descrever entusiamo, qualidades positivas das coisas. Um filme bárbaro, um lugar bárbaro, etc. É uma gíria das antigas, mas esse tipo de linguagem vem a calhar.

Da mesma forma que a palavra, eu acho que o assunto também tem que ser visto de outros ângulos. Quando se colocam as fotos na revista, quando se tira o contexto, quando não participamos ao vivo do evento, é fácil interpretar a situação e ficar a favor do bom senso.

Não faz muito tempo, uma notícia vinda do Maranhão relatou espectadores de um jogo de futebol que tomaram parte de uma briga com o juiz depois do mesmo ter esfaqueado um jogador, entraram em campo, mataram e esquartejaram o juiz. Sim, estamos no século XXI em pelo país dito "civilizado".

Vamos enxergar o ponto de vista do cidadão que é civilizado e obedece a lei, se é que isso é possível em um país de culturas sem âncoras, de pessoas mal educadas. O cidadão dito "normal" sofre o "vandalismo" dos bandidos o tempo todo. O cidadão é assaltado, é humilhado e as vezes perde seus entes queridos quando não é ele mesmo a vítima fatal. E ainda tem o pior bandido, que é aquele que não pratica a violência física direta, que é o corrupto, que desvia dinheiro público, que indiretamente assassina cidadãos, que fica impune atrás de advogados bem pagos.

Quanto essa barbaridade é cometida pelo bandido, ela é tomada pelos meios de comunicação com tanta ênfase, foco e indignação? Acho que não, mas ao mesmo tempo é triste saber que esses meios de comunicação cansaram de dar esse tipo de notícia. Chega até ser irônico ou virar "piada" de certa forma, para desvincular a violência do dia-a-dia.

A leitura que eu consigo fazer de tudo isso chama-se impunidade. Nós somos um povo, em sua maioria, que quer distância de confusão, que perdoa mais que acusa, que tem o sentimento mais forte que a razão, mas cometemos um erro grave que é misturar a impunidade com a tolerância.

Nós toleramos os erros, os desvios de conduta, apoiamos o "espertinho", aplaudimos os que conseguem sucesso sem seguir as leis, dando voltas e escolhendo atalhos, como se triunfassem perante nossas fraquezas e nos vingassem das mazelas do governo e das dificuldades que somos impostos de forma abusiva e destrutiva.

Mas isso está errado, precisamos parar de apoiar esses "Filhotes de Gérson". Precisamos de menos tolerância para termos menos impunidade, mas a dose deve ser moderada. No final das contas, essa barbaridade está sendo apenas uma reação em cadeia das constantes desigualdades moldadas na cabeça das pessoas por esse comportamento inverso, na contra-mão de uma sociedade moderna e mais justa.

A barbaridade por si só, embora nos dê a sensação de justiça, no final das contas, pode ser ponto perdido. Porém do jeito que está, talvez seja necessário passarmos por isso para descobrirmos o caminho certo.

Nós queremos desfrutar os ovos de ouro, mas só sabemos fazer omeletes e omeletes só se faz quebrando ovos. Precisamos descobrir como desfrutar os ovos de ouro sem precisar quebrá-los.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Fantasia ou Ficção Científica

Acompanhando alguns blogs e podcasts, principalmente de filmes, percebi que existe uma grande confusão entre os gêneros de fantasia e ficção científica. A confusão é tanta tem gente que até diz que ficção científica não é um gênero.

Em uma das conversas com amigos sobre esse tema, chegamos a um breve consenso de que ficção científica seria quando o filme trata cenários possíveis levando em consideração o conhecimento científico e extrapolando de forma que a suspensão da descrença do espectador seja a mínima possível.

Depois disso eu resolvi fazer uma pequena pesquisa, começando é claro pelo Wikipedia, e verifiquei algumas informações importantes que podem ajudar a entender melhor essa classificação.

A primeira é que a classificação de gênero de um filme é feita sobre os elementos da narrativa, ou seja, pelos elementos que definem o lugar onde a história acontece, em que tempo acontece, as características dos personagens, a sequência dos acontecimentos, etc.
A segunda é que a classificação dos filmes foi derivada das classificação dos livros, assim, grosso modo podemos tratar livros e filmes da mesma forma. Por definição, como um livro ou filme pode ter diversos elementos diferentes, ele pode apresentar mais de gênero. Talvez por isso, nas minhas pesquisas também aparece o gênero Fantasia Científica.

Outra informação interessante é que, na classificação de gêneros literários, ambas estão embaixo de uma categoria mais geral chamada Ficção Especulativa, que incluí, além deles, a gênero Horror.

Por conta dessa confusão eu vou tentar dar uma definição mais direta, que eu acho que faz sentido, para diferenciar um gênero do outro e assim ter uma forma de classificar com algum critério. É claro que isso tudo é muito mais complexo e cai em um tema maior que é tratado pela filosofia, mas dai eu voltaria a ficar sem um critério para escolher. Nessa página tem um texto bem legal para se aprofundar um pouco mais.

Como ficaria então o meu critério:

  • Fantasia: Quando os elementos indicarem algo fantástico, que realmente está fora da realidade, como bichos falantes, pessoas movendo objetos com a mente ou transformando água em vinho, pessoas com superpoderes como voar, ficar verde e extremamente forte, etc.
  • Ficção Científica: Quando os elementos fantásticos já foram descartados e indicarem algo relativamente possível, dado o conhecimento científico atual, mesmo que utilize-se de teorias ainda não evidenciadas, como por exemplo, ter uma nave espacial viajando através de dobra espacial como acontece em Jornada nas Estrelas ou robôs que evoluíram até um certo grau avançado da inteligência artificial, como em O Homem Bicentenário.

No caso de haver elementos científicos em uma fantasia, como por exemplo, ser possível um robô com alto grau de inteligência artificial como o C3PO em Guerra nas Estrelas, seria melhor classificar mesmo como fantasia do que fantasia científica.

Como o gênero da fantasia historicamente surgiu antes do gênero da ficção científica, eu entendo que ele deva ter prioridade caso houver alguma dúvida entre o elemento ser ou não fantástico e considerar a época que foi escrito, porque é possível que obras mais antigas não tivessem ainda o conhecimento científico para supor algum tipo de absurdo.

Existe também uma chance entre ser ou não horror, por exemplo, no caso do filme Enigma do Horizonte existem muitos elementos plausíveis para ser uma ficção científica por conta das naves espaciais e tudo mais,  mas faz mais sentido ser classificado como horror que é o por onde toda a história gira.

domingo, 1 de setembro de 2013

O Lacre

Resolvi escrever esse post porque, mais uma vez, chegou a mim a "lenda" dos lacres de latinhas de alumínio.

Esse site chama Lacre Amigo. Ao pesquisar mais um pouco, descobri que existe também uma campanha semelhante em São Paulo chamada Lacre Solidário. Coincidência ou não, ambos os projetos são iniciativas de empresas que cuidam de rodovias que foram privatizadas. (Litoral Sul e CCR Via Oeste, respectivamente)

Eu já havia visto correntes por email, postagens em redes sociais e até blogs falando do assunto e achava bastante estranho juntar apenas o lacre já que aparentemente o material é o mesmo e a reciclagem sendo por peso, não faria sentido guardar o lacre e jogar a latinha fora! Na primeira vez que falavam disso, tinha um discurso do lacre ser mais valioso que a latinha.

Em 2011, o Guaraná Antártica fez uma campanha digital aproveitando a onda, onde tentava acabar com esse comportamento, sem julgar se era certo ou errado, pedindo para as pessoas apoiarem o vídeo e isso renderia cadeiras de roda para instituições. Veja A Campanha e também A Entrega.

A questão já esteve até na prova do Enem em 2012 onde o aluno teria que saber sobre os potenciais de redução do magnésio que é misturado ao alumínio do lacre, que reduziria a oxidação do material durante o processo de reciclagem.

A ideia desse post não é fazer critica as iniciativas, porque como pode ser visto, de uma forma ou de outra, as campanhas conseguem ter o resultado a que se propõe. Até o momento esse site do Lacre Amigo apresenta a entrega de 13 cadeiras em quase 1 ano de campanha e o projeto semelhante do Lacre Solidário diz ter entregue 10 cadeiras em 9 meses. A campanha da Antártica transformou cada 10 mil "cliques" em uma cadeira e assim conseguiu doar 50 cadeiras em um mês, sem precisar dos lacres.

A ideia é tentar entender porque afinal se coloca tempo e energia nesse tipo de ação que parece não ter sentido. Eu coletei algumas informações que podem ser úteis para ajudar nessa análise e a única informação que não consegui encontrar é sobre o destino dos lacres.

No site da ABAL (Associação Brasileira do Alumínio) tem uma página que informa que o nível de reciclagem das latinhas no Brasil já é de 98% e tem um preço médio de R$3,00 por Kg. A ABAL informa nessa página sobre o fato de não haver reciclagem apenas do lacre e somente da lata inteira.

Outra pesquisa levou a uma empresa chamada Frato Ferramentas que troca os lacres por cadeiras há mais tempo, na proporção de 80Kg para cada cadeira, o que daria, segundo ela, cerca de 140 garrafas. No Lacre Amigo diz que trocam 80 garrafas por 1 cadeira.

Uma estatística apresentada no site sobre processo de reciclagem informa que o Brasil tem um consumo aproximado de 51 latinhas por habitante. O Wikipedia diz que é preciso 74 latas para obter 1 Kg de alumínio.

O site da Ipiranga Reciclagem, que oferece o serviço de reciclagem de metais, explica que não compensa para as empresas reciclarem apenas o lacre. As empresas anexam o lacre na lata com um sistema que a principio deveria evitar que ele se soltasse da lata, porque solto, dificultaria o processo de peneiragem das latas. Nesse link tem um vídeo mostrando como é feita a reciclagem e seria realmente impossível colocar só os lacres nesse processo.

Através de uma pesquisa em sites de comparação de preço é possível achar cadeira de rodas a preços que variam de 600 a 6 mil reais. Por isso, se levarmos em consideração os valores, 80 Kg de lacres a R$ 3,00 o kilo, teríamos R$ 240,00 se tivesse uma empresa de reciclagem disposta a comprar os lacres, que parece pouco para comprar uma cadeira de rodas, mesmo levando em consideração que a empresa entrasse com outros R$ 240,00 como doação.

Existe também a chance de se vender os lacres para fins de artesanato e encontrei preços que variam de R$ 10,00 a R$ 30,00 por garrafa. Com esse valor parece razoável obter um cadeira de rodas básica, mas não consegui encontrar estatísticas sobre a demanda para esse tipo de material, talvez por isso o preço seja alto.

Se fizermos um ensaio com os números podemos chegar a conclusão que seria bem mais inteligente doar as latas inteiras para arrecadação de dinheiro e posterior compra das cadeiras. O que parece é que coletar apenas o lacre, ao mesmo tempo que dá a sensação para as pessoas que estão ajudando a causa sem precisar juntar um volume grande de latas, traz um benefício social-econômico grande para a empresa que toca o projeto.

Fica agora a critério de cada um tirar as próprias conclusões.