terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Tolerância e Impunidade

A inspiração veio do poema "O Fortuna", mas a reflexão vem dos fatos atuais com opiniões contraditórias sobre o tema recente de fazer justiça com as próprias mãos. O povo sabe, que se a moda de prender bandido no poste pegar, vai faltar poste!

Me chamou a atenção os meios de comunicação falarem da sociedade estar a beira da barbárie. O termo vem da palavra bárbaro, que era o nome dado aos povos que invadiam terras "civilizadas". Se procurar pela lista de povos que já foram chamados de bárbaros, vai descobrir exemplos como os Celtas, os Hunos, os Vikings e os Vândalos, que aqui usamos como adjetivo para descrever bem quem pratica o tal "vandalismo".

Ao mesmo tempo nós usamos a palavra "bárbaro" como gíria para descrever entusiamo, qualidades positivas das coisas. Um filme bárbaro, um lugar bárbaro, etc. É uma gíria das antigas, mas esse tipo de linguagem vem a calhar.

Da mesma forma que a palavra, eu acho que o assunto também tem que ser visto de outros ângulos. Quando se colocam as fotos na revista, quando se tira o contexto, quando não participamos ao vivo do evento, é fácil interpretar a situação e ficar a favor do bom senso.

Não faz muito tempo, uma notícia vinda do Maranhão relatou espectadores de um jogo de futebol que tomaram parte de uma briga com o juiz depois do mesmo ter esfaqueado um jogador, entraram em campo, mataram e esquartejaram o juiz. Sim, estamos no século XXI em pelo país dito "civilizado".

Vamos enxergar o ponto de vista do cidadão que é civilizado e obedece a lei, se é que isso é possível em um país de culturas sem âncoras, de pessoas mal educadas. O cidadão dito "normal" sofre o "vandalismo" dos bandidos o tempo todo. O cidadão é assaltado, é humilhado e as vezes perde seus entes queridos quando não é ele mesmo a vítima fatal. E ainda tem o pior bandido, que é aquele que não pratica a violência física direta, que é o corrupto, que desvia dinheiro público, que indiretamente assassina cidadãos, que fica impune atrás de advogados bem pagos.

Quanto essa barbaridade é cometida pelo bandido, ela é tomada pelos meios de comunicação com tanta ênfase, foco e indignação? Acho que não, mas ao mesmo tempo é triste saber que esses meios de comunicação cansaram de dar esse tipo de notícia. Chega até ser irônico ou virar "piada" de certa forma, para desvincular a violência do dia-a-dia.

A leitura que eu consigo fazer de tudo isso chama-se impunidade. Nós somos um povo, em sua maioria, que quer distância de confusão, que perdoa mais que acusa, que tem o sentimento mais forte que a razão, mas cometemos um erro grave que é misturar a impunidade com a tolerância.

Nós toleramos os erros, os desvios de conduta, apoiamos o "espertinho", aplaudimos os que conseguem sucesso sem seguir as leis, dando voltas e escolhendo atalhos, como se triunfassem perante nossas fraquezas e nos vingassem das mazelas do governo e das dificuldades que somos impostos de forma abusiva e destrutiva.

Mas isso está errado, precisamos parar de apoiar esses "Filhotes de Gérson". Precisamos de menos tolerância para termos menos impunidade, mas a dose deve ser moderada. No final das contas, essa barbaridade está sendo apenas uma reação em cadeia das constantes desigualdades moldadas na cabeça das pessoas por esse comportamento inverso, na contra-mão de uma sociedade moderna e mais justa.

A barbaridade por si só, embora nos dê a sensação de justiça, no final das contas, pode ser ponto perdido. Porém do jeito que está, talvez seja necessário passarmos por isso para descobrirmos o caminho certo.

Nós queremos desfrutar os ovos de ouro, mas só sabemos fazer omeletes e omeletes só se faz quebrando ovos. Precisamos descobrir como desfrutar os ovos de ouro sem precisar quebrá-los.

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